Não tente matar o ego
- Raissa Mendes

- 22 de mai.
- 2 min de leitura

Experiências numinosas, como as vividas com enteógenos, jornadas iniciáticas, meditações profundas e imaginações ativas, podem trazer a sensação de que nosso senso de eu foi rompido, de que o ego morreu e foi dissolvido num todo maior.
A sensação é legítima, vivida no corpo e na imagem. Com a “morte do ego”, parece que nos tornamos algo além daquilo que conhecemos. É como se fôssemos inundadas por uma torrente de água misteriosa, ou como se mergulhássemos tão fundo no oceano que nos fundíssemos com toda a imensidão cósmica nele existente.
Talvez as roupas do ego sejam, de fato, rasgadas nessas experiências. Talvez o ego seja até empurrado para mais perto da luz e do calor de nosso Sol Central interior, o Self, a imago Dei. Talvez esse ego seja tão flexibilizado durante a experiência que as águas do inconsciente realmente inundem.
Mas morrer meeesmo ele não morre. Nem seria saudável, em termos de desenvolvimento psíquico, que essa morte ocorresse.
O ego se flexibiliza nas experiências psicodélicas, mas precisa ser firme o bastante para suportar a intensidade torrencial e para que as transformações psicológicas de fato aconteçam na vida prática. Do contrário, o ego corre o risco de ser radicalmente cindido ou inflado.
Sabe aquele fulano que, depois de tomar ayahuasca, saiu por aí dizendo ser a reencarnação de Jesus Cristo? Pode ser o ego acreditando que morreu e querendo vestir as roupas do Self.
Nos confrontos com o inconsciente durante as experiências psicodélicas, um ego firme e flexível pode ser convidado ao desenvolvimento, a integração acontece e é possível dar corpo e sentido aos mergulhos feitos.
A meta não é matar o ego, mas cuidar de sua força e maleabilidade para que sigamos caminhando rumo a quem verdadeiramente somos - sem inflações, sem cisões radicais.
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Raissa Mendes
Psicóloga junguiana

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