Qual o nosso parentesco com a vida que nos rodeia?
- Raissa Mendes

- 10 de nov.
- 2 min de leitura

Em suas Metamorfoses, Emanuele Coccia menciona que nós, humanos, temos uma consanguinidade cósmica com tudo o que é Natureza. Quando penso nisso, me pergunto: que indícios de parentalidade tenho com a Natureza-ao-redor?
Essa é das perguntas que não se responde sem novas interrogações. Colocar pontos finais em questões existenciais encerra a vida. Preciso das perguntas e, fazendo-as, vou (me) descobrindo, sentindo, reverberando... Quem sou eu, enquanto Natureza? O que tenho em comum com todas as outras Naturezas? O que me conecta a tudo aquilo que indentifico sendo Natureza?
Bras-ilha, 21 de outubro de 1992. Um sopro de vida. Nasci às duas e meia da madrugada de lua minguante, por via natural, vinda de um quente ventre nordestino. Por minhas condições humanas, já não me lembro de como era a vida intrauterina, tampouco o enredo das primeiras horas de nascimento. Apesar das limitações mnemônicas, tenho certeza de que os pulmões se expandiram, o ar adentrou as narinas e chorei.
O ar: o mesmo aglomerado de moléculas gasosas respirado por minha mãe, por meu pai, pela equipe médica daquele hospital, pelos moradores da capital brasileira, pelos habitantes humanos e não humanos do país-com-nome-de-árvore, pelas existências terrenas ainda vivas no pálido ponto azul da Via Láctea... nasci e respirei o mesmo ar que o mundo!
Não seria equivocado entender que, embora com suas diferenças de pureza, umidade e densidade, o mesmo ar que me permite a vida atravessa outros muitos corpos da Natureza planetária. Enquanto a onça-pintada, a coruja, a samaúma, o rio Corda e o oceano Atlântico respiram, eu também respiro, inspiro, exalo, expando, contraio.
O ar é uma linha costurando o tecido de minha genealogia na Terra, e me conecta a toda a vida existente. O ar é a materialidade invisível de minha parentalidade cósmica com a Natureza. Ele é a lembrança etérea de que nunca estou sozinha.


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